terça-feira, 25 de março de 2008

CAOS E FALTA DE RESPEITO NOS TRANSPORTES PÚBLICOS


Os chapas nunca me interessaram. Ou melhor nunca me interessaram tanto como agora, porque devido a várias razões comecei a frequentar mais este meio de transporte. Agora pelo menos duas vezes por semana, faço o trajecto Museu Maphampshene, o que permitiu-me aprofundar a gravidade da ineficiência do sistema de transporte existente em Maputo e Matola.

Ineficiente é um termo adequando mas é frio remete-nos a economia, a pensar-mos que está a se perder dinheiro por não se organizar melhor o sistema(por acaso está a se perder). Mas não explica o que interessa mais a esta crónica, que é mostrar como violento é o sistema de transporte em Maputo e Matola. Para isso a palavra humilhante e não a palavra ineficiente, exprime bem a degradação a que se tem de submeter para se poder ter acesso ao transporte. E falar sobre humilhação não é falar de Economia pura(porque muitas vezes não se preocupa com perdedores) mas é falar de estudos de Paz. É perceber a violência estrutural aquela caracterizada pela forma como a sociedade está organizada através da privação do bem estar às pessoas. Neste caso a privação de transportes dignos às pessoas.

Vou falar do que eu sei vou falar de Maphampshene. Lá pelas 6h da manhã em Maphampshene geralmente existem três bichas: uma para a baixa, por sinal a mais concorrida, uma para Museu, a segundo mais concorrida e uma para a cidade da Matola. As três bichas até antes da 7horas são bem concorridas, mas as vez mesmo até as 9 horas continuam concorridas. Existem outras rotas que partem de Maphampshene na qual as pessoas são transportadas em carinhas pequenas de caixa aberta, em que pontificam mulheres na labuta diária de guevar produtos. Não falarei muito delas porque nunca usei essas transportes em Maputo mas, apenas em distritos. Delas sei apenas que as pessoas vão em pé, abraçadas para não caírem, misturadas com seus produtos, não sei se com animais como daquela vez em que fiz a rota Panda Homoíne, numa dessas carinhas com pessoas e dois porcos pretos grandes, galinhas e lenha, uma doente idosa pessoas apinhadas e um cobrador que sempre arranjava forma de meter mais alguém e seus produtos.

O que se faz para apanhar os chapas é humilhante e violento, porque tem de lutar para subir o chapa e chegar a tempo ao serviço. Não importa se você é ou não funcionário, camponesa estivador ou sei lá o quê. O fato é que o individuo tem de se rebaixar para ter um lugar, ou tem de se elevar de forma guerreira e lutar? Perder respeito temporariamente para poder ir ao emprego e conseguir o pão não é pecado. Não há vergonha nenhuma um pai, mãe ou titia lutarem e serem assistido pelo filho que vai a escola. Por que haveria vergonha? É a vida da sobrevivência... nesse momento talvez o pai ou a mãe têm de esquecer que são educadores. Nesses momentos há que agir como animal irracional, ou pelo menos instrumentalizar a irracionalidade, pôr de lado o respeito para ter um lugar no chapa ou mesmo no machimbombo.

Como se pode ter respeito num chapa e dar lugar a uma titia, mamana ou doente se no chapa anda-se apinhado? Como se pode ter respeito se para se conseguir subir há que lutar muitas vezes? Em todo o caos existe sempre uma ordem, gostaria de saber qual é a ordem que se beneficia deste caos nos transportes.


Isto faz-me recordar que na condenação a escravatura também se alega para dramatizar mais o facto a maneira como os escravos africanos eram transportados. Só que agora não estamos em presença de escravos mas de proletários, estudantes e camponesas.

quarta-feira, 19 de março de 2008

GORONGOSA MEU AMOR

Este poema constará do meu próximo livro a editar ainda este ano, se tiver permissão divina para isso. escrevi-o em Gorongosa, pelo menos o esqueleto inicial, num telefone. Acho que ainda pode ser modificado. Veremos.


Em Gorongosa apenas o luar tremido pela chuva
Que a lava porque a quer mais bela
Nenhum amor por recordar
Apenas sucessivos SMS batidas num telemóvel
Para saudar um amigo e não uma amada

É esta a cor da tempestade
Estar longe onde os arco-íris buscam sua cor
Onde se lavam as faces que nunca chorarão
Onde a verdade não se esconde
Porque tem seu reservatório
Onde a dança é leve
Cortada pelo colear das serras
E rios que arranham as rochas
Com a pressa de uma serpente
Que voa numa cascata
Onde turistas como eu
Esperam com máquinas de fotografar
O espectáculo das águas